domingo, 10 de junho de 2012

Como em certa medida, as rimas que fiz e que li no nosso encontro, também contam a história dos Speedys segundo o meu olhar, publico-as na íntegra para que todos possam conhecê-las.
Com um abraço apertado do Francisco Loureiro

 História da minha ida à tropa
1)
Aos dezassete anos parti
Da terra que me viu nascer
Voluntário, me inscrevi
Ao exército fui pertencer
2)
Do comboio que me levou
Da Pampilhosa até Viseu
Com dificuldade a serra superou
Muito bem, me lembro eu
3)
Um apeava-se e com coragem
A simular que o comboio empurrava
Outro saltava da última carruagem
E correndo, na primeira entrava
4)
Em Viseu passava-se mal
E a comida era intragável
Levantamento de rancho, como tal
A melhoria foi assinalável
5)
Campolide soube a bingo
Para quem da província vinha
No Eduardo VII ao domingo
No bailarico, a Sopeira era rainha
6)
Trafaria foi a seguir
Um destino de eleição
Trabalho na barbearia
Com dinheiro sempre à mão
7)
De surpresa sem avisar
Chegou a mobilização
Na Amadora vou-me apresentar
Para receber mais instrução
8)
Na semana de campo caía
Uma noite muito agitada
Com febre descontrolada ardia
Nem sabia do que se tratava
9)
Fomos muito apreciados
Quando na Beira aterramos
Por mosquitos esfomeados
Nem sei, como inteiros ficamos
10)
Voamos de North atlas, para Mueda
Encostados à bagagem nos sentamos
A aterragem parecia ser em queda
Com surpresa, os ouvidos conservamos
11)
Para Nancatári a viagem iniciamos
E sem travões a berliet capotou
Então a Mueda regressamos
Assim, a última etapa se adiou
12)
Tocou-me como primeira missão
Ao quartel o perímetro percorrer
Para garantir, que com preparação
Nenhum ataque, nos iriam fazer
13)
Uma mensagem me intrigou
Ao alferes Daniel se dirigia
“Teu amigo Clemente, solto”
O que de essencial esta dizia
14)
Quando ao quartel chegamos percebi
Que algo de muito estranho se passou
Golpe de Estado, disseram-me ali
O acordeão do Luz, não mais se calou
15)
Incomodado com tanta festa
O inimigo alguns tiros disparou
Aos abrigos corremos depressa
Tantas balas se desperdiçou
16)
Os graduados nos perguntaram
Se dali, algum inimigo víamos
De repente os tiros cessaram
Mas, ao interlocutor divertíamos
17)
Um dia, eu de piquete estava
Quando a sirene novamente tocou
Grande pássaro ferido se aproximava
E naquela amostra de pista aterrou
18)
A correr, a pista atravessava
Quando visualmente o meço
Já um camarada palpitava
Vem-nos buscar de regresso
19)
Já próximo do arame farpado
Rápido, ao chão me atirei
Quase pela asa raspado
Grande susto que apanhei
20)
Como até o voluntário previu
Eis que a mini-pista acabou
Rodopiando uma asa partiu
E com estrondo se estatelou
21)
De lá saíram espavoridos
Adidos militares, sei-o agora
Com muita sorte, sem feridos
De helicópteros, foram-se embora
22)
Dia 10 de Junho na picada
O inimigo nos emboscou
Não sei se ao tiro ou à rajada
Sei que o Peixoto tombou
23)
Outros camaradas foram feridos
De seguida, evacuados partiam
Ao quartel chegaram os gemidos
Todos angustiados, em luto caíam
24)
Na saída seguinte, também me tocou
Ir a pé até Muirite, pelo capim
Dia e meio, mais de 50 Km se galgou
Bolhas incontáveis, mas chegados ao fim

25)
Com a coluna, já de regresso
Pontes e árvores nos derrubaram
Embora lentos, mas com sucesso
Alternativas se improvisaram
26)
Chegamos todos sãos e salvos
Ao fim de cinco noites e seis dias
Muito fedorentos e exaustos
Ganhando à guerra, mais alergias
27)
Já todos diziam e com certezas
Tirem-me daqui, quero ir embora
Se estas terras são Portuguesas
A minha parte, dou-a de borla
28)
Em Agosto o cessar-fogo foi assinado
E rigorosamente por todos cumprido
O ex-inimigo visitou-nos e foi fotografado
Retribuímos, e nesse grupo fui incluído
29)
Houve alguns factos que registei
Até como na areia caminhavam
Na forma como assobiavam, reparei
Até as galinhas do mato chamavam
30)
Nessa visita eu bem percebi
Como estávamos deslocados
Os verdadeiros donos estavam ali
Fomos todos bem enganados!
31)
Com paz até foram possíveis
Diversas saídas para caçar
Até porque os bens perecíveis
Começaram a escassear
32)
Houve um dia que decidi
Ir à caça mesmo sozinho
Num lameiro andava um javali
Logo pensei, estás certinho!
33)
Deitei-me no morro e apontei
Tinha tudo para não falhar
Mas quando por rajada optei
Nem um consegui acertar
34)
Finalmente, chegou o dia
De Nancatári abandonar
Era enorme a euforia
O pesadelo ia terminar
35)
Em Porto Amélia instalados
Belas férias que passamos
E aos magotes agrupados
Em águas límpidas nos banhamos
36)
Eu e outros, pela primeira vez
Em água do mar, nos molhamos
Com muito treino, ao fim dum mês
Já sobre e sob a água, voávamos
37)
Em Março de setenta e cinco
Para Nampula nos deslocamos
Que saudades que eu já sinto
Do mar que para trás deixamos
38)
Decorrido o tempo certo
Para Nacala nos levaram
O regresso estava perto
As expectativas falharam
39)
Muitas horas, foram aí passadas
E ninguém vislumbrava o balão
Como pategos fomos tratados
Continuávamos pregados ao chão
40)
Ao fim de três dias enganados
Tomamos uma decisão
Então unidos e revoltados
Exigimos o primeiro avião
41)
Foi assim que, juntos conseguimos
Da TAP, o Boeing setecentos e sete
E a certeza que, quando nos unimos
Com os Speedys ninguém se mete
42)
Quando em Figo Maduro aterrou
Manhã gelada, um frio de rachar
Camisa e camisola empresto, não dou
Para o Alves e o Marantes se agasalhar
43)
O Marantes a camisola devolveu
O Alves prometeu fazê-lo mais tarde
É esta chama, garanto-vos eu
Tantos anos depois, ainda arde.
44)
Como Speedys nos conhecemos
Ágeis, o caminho desbravamos
Reencontrados, alimentemos
Esta amizade por muitos anos!...

Francisco Loureiro

1 comentário:

  1. uma autentica epopeia...
    muito bom Sr. Loureiro
    Aquele abraço

    Nuno Carrelo

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